Cama de aviário é fertilizante orgânico? Uma reflexão que segue atual. O que a compostagem pode fazer com a matéria orgânica! Cama de frango e compostagem.
- Associação Brasileira de Compostagem
- 17 de ago.
- 3 min de leitura
Por: Fernando Carvalho, associado da AB|Compostagem
Em 2018, tive a honra de publicar no Anuário da ABISOLO, em parceria com a saudosa Profa Dra. Elke Jurandy Bran Nogueira Cardoso, um artigo sobre um tema que ainda hoje provoca debates importantes: a concorrência entre os fertilizantes orgânicos compostos e os estercos — em especial, a chamada “cama de aviário” ou "Cama de Frango".

À época, defendíamos que embora camas de aviários tenham consideráveis teores dos macronutrientes N, P e K, elas não devem ser confundidas com fontes de matéria orgânica estável e funcional para o solo.
Nesse sentido, quando o objetivo vai além do fornecimento imediato de nutrientes e busca-se a construção de uma fertilidade mais duradoura, resiliente e funcional, os fertilizantes orgânicos compostados se destacam.
O processo de compostagem transforma resíduos crus (material orgânico) em matéria orgânica humificada, com maior persistência, estabilidade e ampla capacidade de melhorar o ambiente edáfico de forma sustentável.

É fundamental esclarecer que esse resíduo, ainda que nutricionalmente rico, usualmente não passa por compostagem nem desenvolve as características desejáveis de uma matéria orgânica bioestabilizada.
Reconhecemos que, em regiões com elevada concentração da atividade avícola, o aproveitamento simplificado da cama de aviário representa uma alternativa prática e ambientalmente relevante para o manejo dos resíduos. Seu aproveitamento direto no solo pode mitigar impactos ambientais locais e fornecer nutrientes essenciais às culturas, o que reforça seu valor agronômico como fonte de N, P e K.
Por outro lado, vale lembrar que as camas de aviários são uma mistura de fezes/urina, restos de ração, penas e materiais orgânicos celulósicos usados como “cama” ou forração (palha de arroz, maravalhas e serragem de madeira etc.). Quando essa mistura é aplicada diretamente ao solo, os resíduos de fezes/urina e alimentos são rapidamente decompostos por microrganismos, liberando nutrientes — o que é ótimo num primeiro momento. No entanto, a fração mais importante da matéria orgânica, aquela que permanece e melhora o solo ao longo do tempo, simplesmente não se forma no curto prazo e pode até mesmo levar à imobilização de nitrogênio do solo, já que o que permanece é justamente a fração celulósica recalcitrante da cama, pouco ativa no curto prazo.
É notório ainda que: a aplicação de material orgânico muito lábil ao solo pode provocar o chamado efeito priming, que induz ao consumo de parte de sua matéria orgânica nativa, gerando o efeito oposto ao desejado — em vez de aumentar o teor de matéria orgânica do solo, pode diminui-lo.

Em contrapartida, os fertilizantes orgânicos compostos, que inclusive pode ter a cama de frango como matéria-prima, passam por um processo preliminar de bioestabilização e maturação. A compostagem termofílica transforma materiais orgânicos em matéria orgânica humificada e persistente, com capacidade comprovada de melhorar a estrutura do solo, reter água, aumentar a CTC, ativar a biota e favorecer o aproveitamento de nutrientes pelas plantas.
Portanto, minha provocação aqui é direta:
- Se o objetivo for apenas suprir NPK, a cama de aviário pode até representar um bom negócio, desde que o valor pago esteja coerente com o preço por ponto de nutriente no mercado de fertilizantes minerais;- Mas quando se compra cama de aviário pensando estar adquirindo matéria orgânica para uma fertilização orgânica de qualidade, estar-se-á pagando por algo que… não leva!
E você? Como avalia o uso de estercos e outros resíduos orgânicos não compostados na agricultura?
Já observou diferenças a longo prazo entre áreas tratadas com composto orgânico e cama crua?
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