Bioembalagens e Compostagem: Uma Aliança Necessária contra o Greenwashing e a Favor do Solo
- Associação Brasileira de Compostagem
- há 4 dias
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Introdução
Recentemente, tive a oportunidade de representar a AB|Compostagem no Conecta Verde, um evento crucial para o debate sobre o futuro das embalagens sustentáveis. A minha participação teve um objetivo claro: ressaltar que a aproximação entre o setor de bioembalagens e o setor de compostagem não é apenas desejável, é vital.
A mensagem que levei é direta: o mercado de bioembalagens não existe sem unidades de compostagem operantes e eficientes. Afinal, de nada adianta desenvolvermos materiais inovadores se não houver um destino final adequado que feche o ciclo de forma segura e ambientalmente correta.

O Desafio do Greenwashing e a Importância das Certificações
Vivemos um momento de expansão de produtos ditos "verdes", mas isso traz consigo o risco do greenwashing. Termos como "biodegradável" são frequentemente usados de forma vaga. Precisamos entender que fragmentação não é decomposição e que o desaparecimento visual de uma embalagem não significa que ela se tornou adubo de qualidade.
Pior ainda são os chamados oxibiodegradáveis, que não são compostáveis e geram microplásticos.
Para evitar que "produtos falsos" cheguem às nossas usinas, a exigência de certificações internacionais validadas, como a BPI e a TÜV Austria (selos OK Compost), é o ponto de partida. Essas certificações garantem que a embalagem irá se degradar nas condições específicas de tempo e temperatura de uma compostagem industrial.
Contudo, o Brasil precisa avançar para a soberania normativa. A reciclagem de resíduos sólidos orgânicos urbanos só se consolidará com um mercado firme, sustentado por um organismo certificador nacional, validado internacionalmente, que aprove produtos adaptados à nossa realidade tropical e operacional.

Usinas de Compostagem: Receptores Passivos de Problemas?
Atualmente, as usinas de compostagem atuam muitas vezes como receptores passivos de problemas de normalização de produtos. Recebemos contaminações físicas visíveis, como plásticos convencionais e vidros, mas também enfrentamos ameaças invisíveis e químicas.
Aqui, chamo a atenção para os PFAS (substâncias per e polifluoroalquil), conhecidos como "químicos eternos". Presentes em muitas embalagens de papel para repelir gordura e água (inclusive algumas vendidas como compostáveis), esses químicos não se degradam. Pelo contrário, sua concentração pode aumentar durante o processo, contaminando o composto final, lixiviando para águas subterrâneas e sendo absorvidos pelas plantas.
O Objetivo Final: Qualidade para o Solo e Segurança Alimentar
Não podemos perder de vista o propósito da nossa atividade. A compostagem não é apenas sobre "livrar-se" do lixo; é sobre produzir solo.
O mercado do composto orgânico depende de um produto de extrema qualidade para retornar às lavouras. É esse composto limpo e rico que permitirá a produção de alimentos saudáveis e nutricionalmente concentrados, fechando o ciclo da matéria orgânica com segurança.
Portanto, o setor de bioembalagens precisa entender que seu sucesso está atrelado à viabilidade das unidades de compostagem. Precisamos banir o greenwashing e os produtos falsos, investir em P&D e garantir que o que entra na usina seja, de fato, nutriente para o solo, e não contaminante.
Sobre o Autor Felipe Pedrazzi é Biólogo, Mestre e Doutor em Geociências e Meio Ambiente. Com mais de 20 anos de projetos ambientais e 15 anos de experiência em compostagem, é fundador de diversas iniciativas no setor e atual Presidente da AB|Compostagem (Associação Brasileira de Compostagem).
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Bom dia Felipe, tenho acompanhado e reputo muito importante o seu trabalho e tudo que tem feito pela compostagem no Brasil.
Este agora de colocar os “plásticos compostáveis” no processo e a ideia de que "o mercado de bioembalagens não existe sem unidades de compostagem operantes e eficientes" e realmente esta condição é sinequanon para que a coisa funcione é muito importante para trazer luz para um assunto bastante controverso.
Sob este aspecto, temos um pequeno senão com relação ao que falou a respeito dos plásticos oxibiodegradáveis: "Pior ainda são os chamados oxibiodegradáveis, que não são compostáveis e geram microplásticos”.
Em relação a esta afirmação podemos dizer com base em muitos trabalhos já realizados, sendo o primeiro que nós mesmo elaboramos…